segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Congresso Internacional de Nutrição Esportiva VP 2017 - quais foram as novas?



O Congresso de Nutrição Esportiva Funcional da VP esse ano consolidou alguns conceitos importantes nessa área por meio de importantes profissionais da área. Murilo Pereira falou sobre o microbioma do atleta, mostrando que a modulação intestinal do esportista pode impactar positivamente na melhora muscular do atleta, além de minimizar formação de substâncias que aumenta o risco cardiovascular. Nayara Massunaga mostrou que até a queda do T3 por aumento do cortisol pode atrapalhar na miogênese e deu dicas de importantes fitoquímicos para a imunoregulação e melhor recuperação no exercício. Maiara Lima falou sobre o FOODMAPS na performance esportiva, mostrando mais uma vez o papel da individualidade e a necessidade de adequar alimentos que minimizam alterações gastrointestinais durante o exercício. Ana Beatriz Baptistella nos mostrou que assim como o atleta precisa ser treinado para melhorar a performance, na nutrição podemos treiná-lo para melhorar a sua tolerância gástrica e receber os nutrientes que precisa, aumentando inclusive a eficiência na absorção de alguns deles. Ricardo Sodré falou sobre as adaptações celulares na ciclagem de ergogênicos nutricionais, dando ênfase na periodização nutricionail. Rodrigo Loshi falou sobre lesões, esteroides anabólicos, treinamento de força e nutrição e colocou que não há recomendações específicas para quem faz o uso de esteroides anabólicos. Andreia Naves falou sobre o impacto da nutrição na recuperação de exercícios intensos sob uma perspectiva metabolômica e mostrou que a maior ingestão de carboidrato ainda está relacionado com aumento da performance, que alguns polifenois prevene o risco de dano muscular, sendo que alguns retardam a fadiga. Bernardo Neme palestrou sobre síntese proteica e nutrição, relatou técnicas de treino e volume de carga para o efeito de hipertrofia, frisando que individuos treinados precisam de maior estímulo. Guilherme Rosa falou sobre adaptações moleculares da ingestão de carboidratos para síntese de força e mostrou mais uma vez o papel dos carboidratos, inclusive com estudos que mostram que apesar das dietas low carb promover maior utilização de gordura, aumenta a percepção de esforço e pode impactar na performance. A dieta com mais carboidrato permitiu aos atletas maior número de repetições, melhora no VO2 e redução do lactato. Rodrigo Loschi mostrou termogênicos e fitoterápicos associados ao treinamento de força para aumento de massa muscular, como o uso da capsaicina que aumenta o cálcio no retículo sarcoplasmático para promover maior contração; o uso de L-carnitina que suplementada com carboidrato permaneceu mais tempo no músculo; a sinefrina associada a cafeína aumentou o número de repetições nos atletas. O uso de inibidores de miostatina não mostraram efeitos, já a beterraba na concentração de 400 mg de nitrato foi útil para aumentar o número de repetições no exercício, sendo administrada 2 a 3 horas antes. Valden Capistrano falou sobre pre sleep nutrition, treinamento de força e síntese proteica e mostrou que treinos que requerem mais grupos musculares, como o crossfit, precisam de mais proteína; que o efeito é semelhante entre os diversos tipos de proteína e, que doses aumentadas de proteínas para idoso evita sarcopenia. Brian Cordeiro falou de outras aplicações para a creatina, inclusive na reconstrução de tecido epitelial e diminuição de inflamação. Henrique Freire falou de fitoquímicos para desinflamar o tecido adiposo e promover o emagrecimento, inclusive mostrou a prática com a utilização de alimentos com estes compostos em preparações simples. Márcio Souza palestrou sobre os fatores que afetam a efetividade dos suplementos nutricionais, como o ácido clorídrico do estômago, o peristaltismo intestinal, bem como problemas de disbiose que atrapalham a absorção dos nutrientes desses suplementos, também falou do cuidado com suplementos contaminados, com composição diferente da expressa no rótulo e mesmo com excessos que podem alterar a homeostase hepática. Andreia Naves mostrou os compostos nutricionais que associados a ingestão de carboidratos podem auxiliar na ressíntese de glicogênio como as soluções de glicose com frutose, a associação de proteínas, bem como a de carboidratos com creatina para melhor absorção dessa última, bem como o uso de hidrocitrato, cafeína com carboidrato e uso de chocolate. Guilherme Schwitzer falou sobre os nutrientes que estimulam a lipólise e sua relação com a capacidade de endurance, como a vitamina D que estimula a lipase sensível (que estimula a utilização de gordura), o cálcio como sinalizador de enzimas lipolíticas, o magnésio como receptor de insulina para o seu maior funcionamento e o efeito dos capsinoides no gasto de energia e oxidação de gordura no repouso e durante o exercício. Mais uma vez Marcio Souza abrilhantou o evento ao falar dos efeitos dos vários tipos de dieta na resposta a lipólise induzida pelo exercício e enfatizou, assim como Luciano Bruno, que são estratégias adaptadas ao objetivo do paciente por um determinado momento. Gustavo Barquilha falou da influência do exercício de força na melhora da performance de endurance, principalmente no que se diz a economia na corrida, seja ele no tempo ou na melhor eficiência na execução do exercício. E para finalizar, mais uma vez Valden Capistrano mostrando as alterações nos exames bioquímicos de atletas, muitas devido para se adaptar ao estado fisiológico do atleta, e sua correta interpretação, associado sempre aos sinais e sintomas.  Foi um evento muito enriquecedor e valeu a pena fechar a agenda para apreciar esse momento de atualidade e consolidação do saber científico.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Dieta Paleolítica: há vantagens em adotá-la como estilo de vida?


Essa dieta ou estilo de vida baseia-se na alimentação de nossos ancestrais de 10.000 anos atrás, com a argumentação que a evolução para novos alimentos cessou nessa época e que a adieta atual e estilo de vida contribuíram para as atuais doenças da civilização. Os apoiadores dessa dieta relatam que ela contribui para a redução de peso e correção de alterações metabólicas. A preocupação é quanto a adequação de cálcio, já que a ingestão de alimentos fontes, como os lácteos, não é permitida e, mesmo outras fontes vegetais de cálcio, tem a ingestão limitada. Há questionamentos quanto a sua evidência histórica, bem como as alegações a saúde. Alguns antropólogos dizem que hábitos são aprendidos por mecanismos comportamentais, sociais e fisiológicos e questionam essa dieta nos dias de hoje. Há alguns estudos comparativos, inclusive com dietas mediterrâneas, que mostraram vários benefícios com o uso dessa dieta, tais como:
- maior perda de peso (outros estudos, mostraram não haver diferença);
- melhora do funcionamento da insulina que regula a glicemia (açúcar) no sangue;
- redução da cintura abdominal (quando aumentada piora o risco para diabetes e doenças cardiovasculares);
- melhora dos lípides (gordura) no sangue;
- melhora da pressão arterial;
- melhora da saciedade, provavelmente por conter mais proteína.
Outros estudos, não mostraram benefícios na melhora da permeabilidade intestinal (o intestino mais permeável torna a pessoa mais suscetível a doenças), nos processos inflamatórios ou mesmo no cortisol salivar (indicador de estresse). E ainda, apontaram a dificuldade de adesão e seu custo maior.
Nessa dieta, os cereais como aveia, cevada, arroz, milho, bem como os lácteos estão proibidos, sendo permitido as raízes, as oleaginosas (grupo das castanhas), as carnes, aves, peixe, frutas, hortaliças. Preconiza-se ter uma alimentação o mais natural possível, evitando os alimentos processados. Suas características nutricionais é a riqueza de: antioxidantes, fibras, fitoquímicos, vitaminas; além de ser reduzida em sódio. A suplementação de cálcio deve ser avaliada individualmente.
É importante enfatizar que essa dieta não é low carb (baixa em carboidratos), pelo contrário, na era paleolítica havia uma grande ingestão de frutas, mesmo assim o funcionamento da insulina era ótima. É uma dieta hiperproteica, cujo objetivo não é especificamente a redução de peso e sim a promoção da saúde. Mais estudos se tornam necessários para avaliar a eficácia dessa dieta. Cuidado com as adaptações modernas dessa dieta! Alguma dúvida, pergunte-me aqui!
Até mais!

Esse post se apoiou na seguinte literatura:
PITT, C.E. Cutting through the Paleo hype: The evidence for the Palaeolithic diet. AFP.; VOL.45, (1-2): 35-38, 2016.
lINDEBERG, S. Palaeolithic diet (‘‘stone age’’ diet). Scandinavian Journal of  Nutrition; 49 (2): 75-77, 2005.